Vídeo

Os trabalhos de vídeo, por sua vez, mesmo quando acadêmicos são bastante interpessoais, idealizados a partir de técnicas mais simples, até as mais nichadas

Esse vídeo tem compromisso em retratar viagens de carro quem sabe em sua maneira mais genuína de ser, retrovisor. O carro que anda em sua grande maioria em busca de seu destino final, deixa sempre a desejar para o pasasageiro, que sem muita pretenção ao longo da trajetória, se contenta com a paisagem e a própria imaginação. Do banco de trás, volta o olhar para o sentido oposto ao seguido pelo condutor, admira a vista em seu sentido inverso, inerte esse é atravessado por informações, e mais carros com outros destinos.

O olhar, em alta exposição, esbarra em borrões que já não voltam mais, e sempre falta muito para chegar, cansa a vista pensar demais na chegada, por isso o que resta é aproveitar o caminho, inclusive, do próprio. Refletir sobre tudo e mais um pouco enquanto ouve as conversas do carro ou uma boa musica no fone, lembrar de histórias embaraçosas, supondo quais histórias são as daqueles que também de alguma forma nos observa pelo mesmo espelinho daqueles outros carros que passam por nós, retrovisor.

O marinheiro é aquele que assim como o seu navio, as vezes atraca, lança sua âncora ao mar, e mesmo acompanhado sempre será só. Esse vídeo busca retratar o épico dessa parceria cavaleiro e seu cavalo, marinheiro e seu navio, mas de maneira melancólica e solitária como na maioria, há de ser. O mar, na primeira cena, se confunde com o céu de tanto que ambos se neblinam e o pássaro que atravessa o quadro, anuncia a partida novamente.

O navio cargueiro, abarrotado de containers e histórias demora a sair do lugar. Seu peso não permite muito deslocamento por minuto, por isso sai devagarinho com pouca pressa e muita intensidade. Essa partida é observada de outro navio, quisá em outro porto, no qual o marinheiro avulso, pesca acompanhado. Lembrando que por mais que esteja em terra firme, terá de partir numa próxima.

A batida do coração. Quando se perde o pulso se perde tudo, inclusive a vida, e é justamente por isso que ela não seria nada sem um pouco de ritmo. Esse vídeo busca evidenciar um dos lugares onde o ritmo e o pulso, se alteram e se misturam com o da própria batida do coração, o lugar de festa.

O curioso é que de fato todos em cena tem um lugar especial no meu coração. Festejam comigo e com o espectador, fazem graça para ele, e se dispõe sempre em paralelo ao local, que reivindica símbolos festivos e rítimicos. Se desritimados param para conversar ou beber, mas ainda sim se fazem em sintonia, por que sem pulso não há vida.

Varal foi um trailer feito para ilustrar um projeto de piching de quinto semestre. Nele, acompanhamos uma menina quieta e contida que está passando mais um dia ao lado de sua mãe no cumprimento de seus afazeres domésticos, quando passa a se perguntar se ela de fato gosta de exercer a maternidade, a partir da simbologia do o extender-de-roupas. O projeto vai ao encontro da dicotomia presente no conjunto que forma a palavra MÃE, trabalhando assim a maternidade de um jeitinho diferente. Mãe, no mundo, mas de maneira singela no Brasil, é muito vista como adjetivo, e portanto algo feito ou dito de uma determinada maneira seria considerado “coisa de mãe”. A problemática disso, no entanto, é que Mãe não tem necessariamente haver com o ato de parir, e sim com o exercer do cuidado constante e cotidiano. Assim a maternidade é substantivo, parte de um querer ser, representando um compromisso de sangue ou de fé.

Varal, desse modo, é ambientado com o exercício, em sua maioria doméstico, de lavar, estender e pôr para secar a roupa e o lençol, demonstrando o cuidado em paralelo ao mecânico, e a dúvida se a escolha de ser mais um do que outro, é o que determinaria o sucesso de uma maternidade. A cena material é um simbolismo visual de todos esses questionamentos os quais serão verbalizadas a partir de uma voz inocente que ecoa, a da Filha, que irá traduzir na dúvida do gostar ou não de ser Mãe, a possibilidade desse substantivo ser algo que se ensina ou se nasce com.

É colocado um cubo de gelo acima da imagem da bandeira de Pindorama, nome esse, anteriormente usado pelos povos originários para denominar a nação Brasil, terra das palmeiras. O cubo então evidencia, através de sua transparência a tal, mas segue se desintegrando, e portanto, a água lentamente derrete o desenho, ilustrando uma nova imagem. A seleção da música, por sua vez, contrasta a frieza e solidez do quadro proporcionando um sonoro fluido e leve como a água que escorre. O Hino é brasileiro, mas é clássico, flauta transversal, ilustrando a mistura. Portanto a ressignificação proposta pela experimentação, é justamente o caráter plural que a bandeira Brasileira, por bem ou por mal, foi condicionada. Movimentos políticos, estéticas eurocêntricas e dismorfismos no geral, descaracterizam um espírito nacional de união, e assim o significado deixa de ser algo de dentro para dentro.Pindorama passa ser Brazil.

A concepção de memória que possuímos hoje, se caracteriza pela forma com a qual o cérebro adquire e armazena informações. Nesse sentido, estudos apontam que ela se manifesta de duas maneiras, a memória de procedimento e a memória declarativa.A memória de procedimento, também chamada implícita, armazena dados relacionados à aquisição de habilidades por repetição de uma atividade padronizada. Nela se incluem todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais. A capacidade assim adquirida não depende da consciência.

Por outro lado, a memória declarativa, também chamada explicita, armazena e evoca informação de fatos e de dados levados ao nosso conhecimento através dos sentidos e de processos internos do cérebro, como associação de dados, dedução e criação de ideias. Esse tipo de memória é levado ao nível consciente através da verbalização, Imagens, sons, etc.

Desse modo, o vídeo busca, por meio dessa dualidade da atividade de memorizar, apresentar ambos os procedimentos. De um lado a memória como banho morno, algo mais subjetivo, interior, sensível e padronizado, e por outro a memória como gato molhado, oposto evocativo da natureza, animosidade empírica e virtualidade dos sons e cores.A memória é oscilante entre esses dois mundos, e o filme busca justamente elucidar ambos os campos dessa, por meio, inclusive, do próprio mecanismo de memorização.

Sobre a montagem, a metalinguagem na execução, faz com que todos recursos utilizados na montagem, partam da práxis que nós mesmos utilizamos para absorver informações, desde a padronagem redundante da trilha, recorte da tela, inversão do eixo horizontal e contraste entre Luz e sombra. A mensagem final é que a memória pode ter seu lado civil de banho quente, ou natural de gato molhado, e essa dualidade é oscilante, instável e vivida em nossa consciência.

Pesquisa sobre linguagem adotada: Formatação congruente inspirada nos trabalhos de Sharon Neshat; Estrutura de sobreposição de tempos referência dos trabalhos de Bill Viola; Contraste de luz e sombra, cor e ausência dessa inspirado nos trabalhos de Phil Stewart Solomon; E por fim pesquisas sobre o funcionamento da memória

Durante o período da pandemia do COVID-19, minha Avó querida veio a falecer, deixando, além de uma carência gigantesca do seu não estar, uma caixinha cheia de fotografias contando a sua historia. Uma historia de infância dela, uma do meu pai e da minha tia, inclusive de mim; Uma historia de romance entre ela e o meu Avô, das suas amigas e seus vestidos lindos dos anos 50.

Pela primeira vez, conheci a sua perspectiva da vida, suas várias faces ao longo do tempo, sua graciosidade que a cada momento espontâneo ou construído, imprimia a sua essência forte e doce.

Resolvi retratar em “Girls do Cry” um epitáfio mais colorido e significativo do que a minha Avó foi, e sua eternidade nos momentos revelados que ela deixou para trás.

"Água mole” nasce de uma conversa por áudio com uma amiga, uma visita ao Museu do Amanhã e um ditado popular.

Primeiramente essa amizade nasceu de um querer inesperado. Uma água mole e uma pedra dura que se encontram, e nesse contato cotidiano fazem acontecer o que para o ditado, e para a vida, é o rompimento da barreira do estranho, se tornando agora, familiar.

Em uma visita ao Rio, tive a oportunidade de me deparar com a obra de Carlos Adriano. O encantamento foi imediato e a lembrança dessa amizade que é tão avassaladora quanto as ondas recortadas em dois, me fez querer ressignifica-la, em um contexto mais íntimo.

A imagem foi tratada e convertida para tons de sépia roxo e amarelado, e o vídeo, disposto em looping, tem a canção Timoneiro de Paulinho da Viola substituída pelo áudio mais gostoso que ela já me enviou. As risadas sinceras, os diálogos não muito audíveis e a dicção que oscila entre um objetivo de encontro e memórias vividas juntas, fazem desse curta uma justa “Água Mole”

“Der Lauf der Dinge” é um filme de arte de 16 mm de 1987 da dupla de artistas suíços Peter Fischli e David Weiss, que documenta um encadeamento causal de objetos cotidianos e materiais industriais.

O Folley, nesse sentido, entra como um projeto “mão na massa”, justamente por flertar com a área talvez mais empírica do audiovisual, o som.

O objetivo desse trabalho, portanto, era reproduzir de maneira bastante amadora (ou seja, sem estúdio e sem microfone), os sons que os determinados objetos faziam ao se movimentar pelo espaço.